“Acordava antes do sol nascer e começava a trabalhar às 5h em uma fábrica de papel. Naquele fatídico dia, me pediram que trocasse de máquina por apenas duas horas, até um funcionário assumir. Eu não conhecia a tal máquina, nunca tinha usado e nem sido treinado para manipulá-la, mas irresponsavelmente fui designado para colocar a ponta de um papel entre cilindros para colar uma lâmina lisa a outra micro ondulada. E foi na primeira hora de trabalho que o papel encharcou de cola, arrebentou e puxou a minha mão direita. A máquina começou a engolir e moer minha mão, como se fosse cana-de-açúcar, meu reloginho Cassio foi empurrado para o cotovelo, apertando meu antebraço. Com isso, eu não conseguia sair ou desligar. Levei minha mão esquerda na tentativa de puxar a outra, mas desisti tão logo imaginei que as duas poderiam ficar presas.
Como a máquina não tinha um dispositivo de segurança, gritei por ajuda e um amigo que trabalhava próximo correu para desligar o equipamento. Os mecânicos vieram desaparafusar os rolos e finalmente minha mão se liberou. Ela estava totalmente esmagada, ferida. Pedi ao amigo que retirasse o relógio que me apertava, mas quando viu minha mão, ele desmaiou. Consegui desabotoá-lo e fui levado ao hospital.”
Essa é a história do Douglas da Guarda e uma nova história, idêntica ou muito similar a dele, acontece a cada 3 minutos no Brasil. Ela demonstra como estamos todos conectados. Não há ato, muito menos consequências isoladas. A cada 3 horas e 33 minutos, um trabalhador perde a vida. Que horas são agora, no momento em que você está lendo esse texto? Faça as contas.
A história de Douglas e de milhares de trabalhadores revela uma rede invisível que sustenta vidas e que se rompe em instantes. Quando um acidente acontece, não atinge apenas o trabalhador: ele reverbera entre colegas, líderes, familiares e instituições. É um sistema que muitas vezes se vê fragilizado pela falta de prevenção, cultura fraca e desatenção aos riscos reais.
Essa estatística não é apenas um número frio: é uma cadeira vazia no jantar, um filho que não verá o pai voltar, uma mãe que terá que sustentar a casa sozinha. Em 2024, o Brasil registrou 742.200 acidentes de trabalho — média de 2.008 por dia ou 83,6 por hora. Só na função de alimentador de linha de produção, foram 32,4 mil notificações de acidentes em 2024.
E esses são apenas os dados oficiais; quantas histórias não são sequer registradas? A dor dessas perdas reverbera em todas as direções: os filhos de hoje, que perderam o sustento, terão que lidar com a incerteza do futuro. Será que estamos realmente fazendo alguma coisa para mudar essa realidade? Aliás, será que, enquanto sociedade, sequer enxergamos o tamanho desse problema?
O Brasil está em 3º lugar entre os países com mais mortes em acidentes de trabalho, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. E esses acidentes geram custos para a Previdência Social e para empresas. Desde 2012, o INSS gastou mais de 153 milhões com afastamentos acidentários. Em 12 anos, foram 32 mil pessoas que morreram em decorrência de trabalho inseguro, segundo dados do MPT.
Entre 2012 e 2023, os acidentes de trabalho no Brasil resultaram na perda de mais de 500 milhões de dias de trabalho, de acordo com dados da Previdência Social e Fundacentro. Para visualizar esse impacto, imagine: é como se 137 mil pessoas parassem de trabalhar durante um ano inteiro. Toda uma cidade de porte médio parada, sem produzir, sem renda, com impacto direto nas empresas, na economia e, principalmente, na vida dessas famílias. Cada acidente representa uma interrupção — e, somados, revelam o tamanho da perda que o país enfrenta por não investir o suficiente em prevenção.

Segundo o professor Béda Barkokebas Júnior (in memorian), especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho, a grande maioria dos acidentes de trabalho é evitável. Ele argumenta que, segundo a OMS, 96% desses incidentes podem ser prevenidos com ações corretas e proativas, baseadas em uma engenharia que não apenas reage a problemas, mas antecipa riscos. O papel da Engenharia de Segurança é transformar ambientes de trabalho em espaços mais seguros por meio de tecnologias e monitoramento contínuo.
O professor destaca que, por exemplo, o capacete protege contra a queda de objetos, mas é o planejamento da engenharia que evita que esses objetos caiam. Ou seja, a prevenção começa muito antes da proteção. Essa abordagem científica permite que empresas identifiquem pontos de risco e tomem medidas antes que os acidentes ocorram. Ele reforça a importância da análise e controle de riscos para garantir que trabalhadores estejam não apenas protegidos, mas seguros desde o início de suas atividades.
Nenhuma tarefa é tão urgente ou importante, que não possa ser feita com Segurança.
A lógica da prevenção, conforme defendida por especialistas como Frank Bird, baseia-se na ideia de que grandes acidentes são precedidos por uma série de eventos menores e menos graves. Cada acidente fatal, na verdade, é o resultado final de uma pirâmide de ocorrências, como desvios e quase acidentes, que não foram adequadamente tratados. Essa abordagem sugere que, ao monitorar e resolver esses pequenos incidentes, podemos evitar tragédias maiores.
A premissa é simples: se controlarmos as bases da pirâmide, reduziremos drasticamente os eventos mais críticos. Ao entender que cada desvio é um alerta, a engenharia de segurança trabalha para fortalecer o monitoramento contínuo e garantir que esses sinais sejam tratados antes de se tornarem problemas maiores.
Não existe um culpado, existe um sistema em colapso que prejudica e responsabiliza cada um de nós e todos juntos. A proposta para reverter esse cenário envolve uma combinação de mobilização social, políticas públicas de incentivo e transformação digital nas empresas.
A mobilização social visa engajar a sociedade, mostrando que a segurança no trabalho não é um “setor de gente chata que só cobra na empresa”, mas sim uma demanda, uma questão que afeta todos nós. Por isso, o SICLOPE em parceria com dezenas de empresas e apoiadores, criou a campanha Um dia a mais, com o objetivo de conscientizar e sensibilizar a sociedade para com relação ao problema de insegurança no trabalho.
Desde pequenos, somos ensinados que o “risco” é parte do caminho para o sucesso. “Quem não arrisca, não petisca” é o ditado que seguimos. Isso cria uma falsa segurança, nos levando a crer que o risco é algo natural e até necessário para provar nosso valor. Arriscamos sem medir adequadamente as consequências, muitas vezes nos sentindo pressionados a demonstrar coragem e competência em um cenário onde o risco deveria ser minimizado e não incentivado. Uma maior consciência dos riscos, reduz os impactos nas pessoas.
As políticas públicas desempenham um papel essencial ao fomentar boas práticas, oferecendo incentivos fiscais, tributários e programas de financiamento exclusivos para projetos de segurança do trabalho. Ao implementar fiscalizações mais rigorosas e linhas de crédito acessíveis, o governo facilita o caminho para que empresas adotem práticas mais seguras e promovam a segurança e a saúde dos trabalhadores. A demanda deve surgir do povo, mas o Estado tem o dever e a responsabilidade de ser o primeiro a pensar na aplicabilidade das medidas. Até porque, tais incentivos não apenas ajudam na prevenção de acidentes, mas criam um retorno positivo em termos de produtividade e segurança. Políticas e financiamentos adequados reduzem os impactos no Estado e nas organizações.
A transformação digital, que é composta da combinação de engenharia, tecnologia e promoção de cultura, completa essa tríade ao integrar esses recursos com as práticas de segurança, promovendo mudança real de comportamento. A captura e a análise de dados em tempo real permitem que os riscos sejam monitorados e eliminados de forma mais eficiente. O uso de soluções tecnológicas não só acelera o processo de prevenção, mas viabiliza a tomada de decisões com base em dados concretos. Dessa forma, a proposta garante resultados reais e sustentáveis para todos os envolvidos, gerando um impacto positivo na sociedade, nas empresas e na economia.
Sim, funciona e podemos provar. Um estudo interno realizado em diversos setores industriais mostrou que a aplicação de práticas preventivas gerou uma redução média de 40,7% ao ano em acidentes com perda de tempo. Isso significa que, ao adotar medidas proativas de segurança, como monitoramento de riscos e controle de desvios, as empresas não apenas diminuem os afastamentos e custos associados, mas aumentam a eficiência produtiva. Os números falam por si: quanto maior o investimento em prevenção, menor o impacto financeiro e humano, reduzindo consideravelmente o impacto em cascata que apresentamos.
É o tal ganha-ganha-ganha. Ganham as empresas, ganha o Estado e, principalmente, ganham as pessoas.
Agora que você conhece as estatísticas, os impactos e as soluções possíveis, a pergunta é: o que você vai fazer a respeito? A mudança começa com cada um de nós. A próxima etapa é fazer com que toda a sociedade tome consciência do problema, pois só assim conseguiremos entender e enxergar isso como uma pauta urgente e de todos. Você conhece algum influenciador? Comente com ele sobre este texto, sobre essa causa. Melhor ainda, envie para ele e ou ela! Conhece um podcast? Sugira uma entrevista conosco para levarmos e discutirmos esse tema. O poder da internet pode ser extremamente benéfico se bem usado. A teia invisível do trabalho inseguro pode se transformar na teia da mudança e da colaboração.
Faça parte dessa mudança agora!
De forma inovadora, a campanha Um dia a mais utiliza a música como veículo principal para transmitir sua mensagem. A canção homônima conta a história de Edilson, um trabalhador comum que sofre um grave acidente e, diante do inevitável, faz um pedido às estrelas por mais um dia — um dia a mais para ficar perto de sua esposa Helena e seu filho João. Um dia a mais para viver.
Acesse o site oficial da campanha e conheça mais sobre esse lindo movimento!
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